2 de ago. de 2008

Crítica - Mario Bortoloto no Rio de Janeiro

Maldito, marginal, underground, a passagem do ator e dramaturgo paulista Mario Bortoloto, que ficou em cartaz no Teatro Ziembinski durante quatro semanas com a 2ª Mostra Cemitério de Automóveis, com os espetáculos Chapa Quente, Efeito Urtigão, Kerouac e A Queima Roupa, despontou num momento necessário em que paira sobre esta caretíssima temporada carioca uma certa padronização de gêneros teatrais cujas fórmulas, já conhecidas por todo público, são garantias de sucesso absoluto e se estendem por anos e anos e anos.



Esta não é a primeira vez que a trupe toma de assalto o teatro localizado no tradicional bairro tijucano. Em 2005 eles estiveram aqui apresentando espetáculos como O Que Restou do Sagrado e Getsêmani, para citar dois exemplos. A dramaturgia de Bortoloto é visceral, violenta. Seus personagens são tipos quase inumanos, grotescos, sem qualquer espaço pra divagações do tipo moral, que vivem numa metrópole onde o lema de vida é: cada um por si e Deus por todos. Nem o Todo Poderoso sequer tem noção do leão que seus filhos matam, diariamente, para conseguir o aval da sobrevivência.











Ali, o palco serviu de tribuna para os lavadores de carro, policiais corruptos, mauricinhos e patricinhas, ex-detentos que saem pior do que quando entraram na penitenciária, pilantras disfarçados de trabalhadores, traficantes, todo núcleo que compõe sempre as melhores páginas policiais dos jornais e noticiários de tv especializados no assunto. É interessante notar como estes personagens parecem habitar, todos eles, o mesmo bairro, ou o mesmo prédio caíndo aos pedaços, ou o mesmo pé sujo, com se eles se conhecessem mesmo de vista ou se esbarrassem em alguns momentos de suas vidas. Considero a visita de Mario Bortoloto mais uma vez necessária pra quebrar a monotonia cor de rosa dos nossos palcos. Precisamos de mais rock'nroll na veia. Precisamos ser mais audaciosos nos temas e nos assuntos tratados. Esperemos ansiosos uma terceira mostra desse cara que é o hardcore do teatro brasileiro atual.

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