24 de ago. de 2007

Conto nº 8 - A varanda

Apartamento, número 306 de um bairro carioca. Silêncio... Dois amigos estão na sacada de um prédio de onde contemplam as últimas cores do dia que já se finda. Não se olham! Não se falam! Tempo... Estão fumando seus cigarros. De lá de cima, ouvem o leve ruído que vem do trânsito. Nada que os incomodasse! Estavam longe dali, plenos de tranquilidade. Já era hora de um deles ir embora, mas ninguém tinha pressa. Pelo contrário, resolveram dividir ainda mais aquele instante juntos. Sempre falantes os dois, ali não pronunciaram uma só palavra. Nenhuma. Não sentiram necessidade. Pra que falar? Se ambos tivessem tido a idéia de fazer uma pergunta para o outro... mas não, não queriam... Não queriam saber em que pensavam. Foram para a estreita varanda contemplar... Só isso! O tempo que durou o encontro foi curto, porém, intenso, a ponto de querer eternizar o momento presente em forma de narrativa. Penso em imagens de cinema europeu... Crio formas sobre o vazio daquele tempo-espaço, preenchido pela fumaça do cigarro que demorava na mão de um deles, no suporte fixo da página em branco. Foi exatamente o tempo do cigarro queimar. Já foi. É passado! O contato transformou-se em experiência. Agora só lhes resta o cantinho da memória... Acabou o cigarro. O amigo parte. Entra no elevador. Foi embora.

23 de ago. de 2007

Crônica - Lembranças de mais um reencontro

A amizade que sente saudade. O abraço forte do reencontro. O esforço para que tudo saia exatamente conforme o planejado: Não pode chover. A bebida deve estar estupidamente gelada! Preocupações com o conforto, o bem estar dos convidados etc... Neste local - onde havia muita gente jovem, com cabelos ao vento (citando uma canção da Elis Regina), com a esperança no rosto de que boas novas irão ouvir e brindar as vitórias conquistadas - estavam sedentos de felicidade. Queriam simplesmente se ver, se tocar, beber, aproveitar um fim de semana ensolarado em pleno inverno carioca. Realizava-se ali mais uma renovação dos votos de amizade, que tanto relutamos para não cair no esquecimento. Não há mais um dia-a-dia, um "até amanhã". Há sim um mundo louco que tenta nos derrubar, nos afastar, nos ludibriar com falsas esperanças. Se não temos à nossa volta estas pessoas com as quais escolhemos como nossa segunda família, que são os amigos - aqueles que provam serem verdadeiros em seus sentimentos - como seguir adiante? como ser feliz? E eu não admito um futuro amargo. Eu rejeito a hipótese de ter que viver na desconfiança. Eles só querem tirar fotos e dançar, dançar até suarem seus corpos colados aos nossos, dançar até perderem a noção do que é ter noção, é levantar a perna pro alto, é mostrar o decote, é sentar no colo - com ou sem malícia... é nos acolher sem pré-conceitos estabelecidos. Sabemos o que queremos, mas as vezes, nos esquecemos o local em que queremos. Contamos com uma forte aliada: a sorte. As vezes, tal qual um anjo da guarda que resolve se afastar rapidamente, ela também nos deixou durante um minuto, mas as fotos estão ai, correndo pela internet, pra mostrar que foi um dia inesquecível.