23 de nov. de 2010

Objeto de Amar

De tal ordem é e tão precioso
o que devo dizer-lhes
que não posso guardá-lo
sem que me oprima a sensação de um roubo:
cu é lindo!

Fazei o que puderdes com esta dádiva.
Quanto a mim dou graças
pelo que agora sei
e, mais que perdôo, eu amo.

(Adélia Prado)

5 de nov. de 2010

Conto 10 - Escrita compartilhada - Isso pode ser qualquer coisa


calor, sufoco, não conseguia dormir, o irmão entrou no quarto às sete e meia da manhã, hora em que o relógio do celular despertou, despertou pra nada, a visão embaçava, sentia-se amassado, sentou-se na mesa do escritório, sussurrou no meu ouvido, desligou o despertador do celular, me perturbava, estava com sono, meu chefe falava coisas estranhas, havia uma batata quente em sua boca, não ouvia nitidamente, seu rosto era uma batata, levantei para deitar, a mosca, há vagas para moscas de fino trato, as moscas copulavam em cima da minha coxa, o mês de setembro também, o que vai rastejar é o mês de novembro, o que é teatro do absurdo, quero matar uma pessoa, quero ou quer, terceira ou primeira pessoa, eu ou ele, objetividade ou subjetividade, vamos escrever juntos, vamos escrever uma escrita compartilhada, qual é o tema, qual é o assunto, isso cabe, aquilo não, não, texto sem pontuação não serve, mas eu quero escrever uma escrita compartilhada, talvez uma autobiografia não autorizada de minha autoria, talvez quem sabe um conto de novecentos e cinquenta e nove páginas fragmentado, mas eu acordei, acordou, você acordou, tomou banho, foi ao escritório, não, eu não, então quem foi, não eu, foi o sonho que tivera, tive, teve, ou terá, da mesa do escritório passou diretamente para dentro do carro preso no trânsito, recebeu uma mensagem no Facebook, foi convidado pra ir ao show de um músico não conhecido, um músico que mora na cidade do (...), um músico que sofre de bipolaridade, uma canção alternativa pensou, uma voz muito fraca, odiou aquela canção, o balanço é pós moderno, você não está acostumado com a voz de petra roni von kant, eu disse isso a você pelo telefone, chorei lágrimas amargas...