Estou sentado agora em uma praça abandonada escrevendo estas linhas enquanto um forte odor de merda exala atrás de mim. Não reajo, sinto. Não me levanto, mantenho. Deveria fazer alguma coisa, pois sinto que o cheiro é forte e extremamente desagradável. No entanto, o fedor me prende. O que será que passa pela cabeça das pessoas ao me verem ali, sentado, deixando-me prostrar minuto a minuto, sendo envolvido pela atmosfera podre que se instala e que vai invadindo as minhas vias respiratórias? Eles não pensam. Não tem tempo pra pensar em nada, nem sabem que eu estou ali. Passam pelos sujeitos tagarelando nos celulares, cuspindo no chão, segurando a bolsa com medo dos assaltantes, coçando o saco a fim de chamar a atenção do outro - e, se possível, ganhar uns trocados - mas não me olham. Não sabem que eu existo. Eu não interesso... Não consigo escrever mais... Acabaram as minhas forças... Não movo mais nem um músculo... Não sinto mais a pele do meu corpo... Me desfaço... Faço parte deste elemento... Me dissolvo aos poucos em odor incômodo... Levito e deixo que o vento me leve junto com as folhas da amendoeira para lugar nenhum... Sou algo que vai emburacar numa narina mais próxima e viajar pelo interior do ser humano, causando algum tipo de repulsa... Me divirto provocando a náusea, o vômito, a ogeriza, a vontade de escarrar em plena praça pública... Faço parte da parte podre da natureza... O resto... A sobra... O dejeto... O excremento... E como isso me excita...
Belo texto, bela idéia.. em poucas palavras Pier Paolo exprime um olhar menosprezado pela sociedade.. Um olhar rico mas mal explorado.. Com propriedade ele se apodera da situação contada para nos mostrar um pouco do universo quase não abordado.
ResponderExcluirTem um 'quê' de Rubem Fonseca em "Secreções, Excreções e Desatinos"... pq será, hein?!
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