26 de jul. de 2010

Crônica - Aqueles filmes que ainda não assistimos, mas que iremos assistir em algum momento de nossa existência, que eu espero que seja longa

Talvez seja preguiça. As vezes eu demoro décadas para assistir aos filmes que estão na minha listagem (virtual) obrigatória e imprescindível de títulos recentes, ou não tão recentes assim, que considero como essenciais para minha formação intelectual e que não posso deixar de ver de jeito nenhum. O problema é que eu não tenho muito saco pra ficar apontando o que ou quando é que eu irei ver tal ou qual produção, aliás, deixo aqui bem claro que admiro aqueles que possuem paciência pra elaborar tabelas em computador, com o intuito de registrar o que fez, quando, onde, com quem e em quais circunstâncias, e por ai vai. Com relação à mim, eu deixo para o acaso. Na hora algum amigo, parente (coisa muito rara) ou afilhados de casamento vão me ligar e me propôr uma indecência estética. Mas sempre há aquela produção cinematográfica que a gente deixa escapar e que, por causa desse deslize terrível, vai virar o tema principal, o comentário do bar, de festa, de fila de boate (?) etc.

Uma vez, na Cobal do Humaitá, numa madurgada fria de sexta para sábado, saíndo de uma maratona teatral na UNIRIO, eu e meus amigos de graduação fomos nos encontrar com outros amigos que estavam à nossa espera. Entre uma caipirinha e outra, sapecamos um Almodóvar na roda de bate papo... Não me considero um especialista em Almodóvar, mas conheço vagamente o conjunto de sua obra, e consigo reconhecer os elementos que ele usa como referência estética e tal... Mas a galera começou a falar do filme "Tudo sobre minha mãe", logo este que eu ainda não tinha assistido. "Logo esse", pensei. E conforme o teor alcoólico ia temperando os entusiasmos, deixando solto as mãos e o verbo, todos naquela mesa falavam entusiasmadamente, enquanto eu estava calado, olhando pra cara deles, com um sorrisinho amarelo entredentes. Não dá uma sensação de agonia quando isso acontece? Mas como eu também não gosto de "ter aquela opinião formada sobre tudo", continuei bebendo aquela caipirinha, que por sinal, estava deliciosa.

Há alguns anos atrás, voltando a falar sobre aqueles filmes que a gente não pode deixar de ver antes de morrer, eu elaborei algo do tipo para um grande amigo meu. Caramba isso faz tempo. Vou explicar melhor o fato: Eu trabalhei durante durante dois anos e meio numa rede de cinemas de grande porte. As produções que lá eram exibidas faziam a festa do gosto médio de uma classe aburguesada da zona norte carioca (Tijuca), mas, de vez em quando, um sopro de inteligência pairava por aquele ambiente, e então eu era agraciado com um filme argentino como "Filho da Noiva" ou até mesmo o "Amarelo Manga" porradão no estômago do Cláudio Assis e que nunca que eu poderia imaginar que ficaria em cartaz lá onde eu trabalhava. Enfim, nada comentei sobre o meu propósito com ele. Desde então eu juntei todos os títulos que estiveram em cartaz por lá, e que valiam a pena dar uma olhada, e o presenteei. Lista organizada por ordem alfabética, formatada quase em moldes científicos. Não sei se ele deu preferência ao conteúdo ali indicado, se ele confiou no meu bom gosto, nem se essa lista ainda existe, mas se existir, será uma obra singela, deixada por mim para a posteridade... algo concreto que exigiu uma capacidade de esforço e concentração muito acima do comum. Mas convenhamos, exageros à parte, se não fosse a ajuda do catálogo de filmes que eram publicados semanalmente pela empresa e que eu tinha mania de colecionar, claro que essa lista nunca que ia existir...

Dia desses eu aluguei o filme do Almodóvar, mencionado por mim há alguns parágrafos atrás, e como sempre, me emocionei como um tolo...

5 comentários:

  1. eu tava lá,num tava?
    - ARZE

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  2. Inclusive, o "Tudo sobre minha mãe" (que é maravilhoso e, sem dúvida, emocionante!) foi uma das obras do Almodóvar que foi adaptada por João Fonseca para o espetáculo "ALVODOAMOR" (lembrou?) assim como o "Má Educação"... Amigo, adorei o texto! Parabéns! Bjão.

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  3. Rapaz, é triste mesmo quando JUSTAMENTE um filme que não vimos é alvo de uma roda de discussão. :)
    Isso acontece muito comigo hehehehe
    Como você bem disse, a gente vê os filmes conforme eles nos são apresentados e, não, via tabela e talz. :)
    Abraços!

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  4. Amigo, não sei se fui o citado no texto, mas já recebi uma lista dessa sua, lembra, rs? Eu adorei, mas confesso que ainda faltam muuuuitos filmes pra eu ver. A minha lista aumenta pq os filmes entram em cartaz e eu não dou conta, imagine você... E a sua lista existe sim, está em alguma gaveta minha, na casa da minha mãe. Canceriano guarda tudo, hahaha! Beijos!

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  5. Acho, ou me conformo ao achar, que todos temos em mente listas de filmes, livros, lugares, fantasias etc. que temos que "dar cabo" antes de morrermos. Eu já tive o pensamento absurdo de pensar que se ficasse internada (ou, pasme, detida) por um bom tempo seria uma forma de resolver isso. Depois desse momento demência, cheguei à conclusão de que alimentar minhas infindáveis listas mentais é um exercício mais saudável do que pensar que um dia vou conseguir ticar todos os itens. E se falarem justamente daquele que não vi, exercito a arte de desviar para um que já vi. (A parenta aqui se sentiu triste por nunca ter te convidado pra dimunuir sua listinha.) Beijo!

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